SESI / NOVO TELECURSO
/ Profª Claudia Rocha
LINGUAGEM: PORTUGUÊS - O senhor sabe com quem está falando?
(Agrupamento 02 - Aulas 02, 03 e 04 )
Na aula passada, vimos como as mesmas idéias
podem ser escritas e reescritas de formas diferentes, para atender a situações
diferentes. Nestas aulas, verificamos que refletir é pensar sobre alguma coisa.
É matutar, é pôr a cabeça em funcionamento e ter idéias. Assim é que sempre se
diz que temos que refletir antes de tomar uma decisão. Pois é, no nosso caso,
REFLEXÃO é o exercício que a mente faz para retornar mais de uma vez, várias
vezes, ao assunto ou a um problema, para entendê-lo melhor, para resolvê-lo,
procurando inclusive observá-lo vários ângulos diferentes. Ao escrever,
precisamos saber DO QUE vamos tratar, O QUE vamos dizer, e COMO vamos fazê-lo.
Do que vamos tratar e o que vamos dizer, essas duas formas ou até mesmo como vamos dizê-lo, temos como
problema do COMO iniciar, exatamente, com o COMO COMEÇAR. Há vários jeitos de
começar. O mais simples é: resumindo, o mias claro possível, o que a gente
pensa do assunto. Depois continua-se a redação, explicando por que a gente
pensa assim.
Leia a seguir como Graciliano Ramos
fala do processo de escrever: “[...] deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras
lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a
roupa seja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente,
voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois
enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na
laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não
pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram
a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever
devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como
ouro falso: a palavra foi feita para dizer.” Escrever não é apenas colocar palavras no papel, não é?
Precisamos trabalhar muito, quando queremos escrever. Todo texto é um produto, mas sua elaboração é, antes
de tudo, um processo que
relaciona, basicamente, duas ordens de fatores: 1) finalidade, leitor previsto,
assunto e tipo de texto; e 2) a construção de uma unidade de significação.
Coesão e coerênciaà Imagine a seguinte
situação: na grande decisão de um campeonato, o técnico de um dos times
declarou aos jornalistas: "Vamos
respeitar o adversário, mas, agora, nosso time está coeso". Agora, numa outra situação, a namorada diz para o
namorado: "Não adianta. Não vou mais perdoar você. Quero que tenha
atitudes coerentes." Na
primeira situação, o técnico enfatizou o fato de seu time estar coeso, como uma
qualidade importante para ganharem o jogo. "Coeso" significa
"unido", "intimamente ligado", "harmônico". Na segunda situação, a namorada cobra atitudes
coerentes do namorado. "Coerência" significa "harmonia",
"conexão", "lógica". Você sabia que "coesão" e
"coerência" são as duas propriedades fundamentais para que exista um
texto? Sem esses elementos, não podemos dizer que existe texto. Quando muito,
há um amontoado desconexo de palavras colocadas lado a lado. Bem, vamos a mais
uma reflexão? Desta vez, leia o trecho de uma crônica de Millôr Fernandes. “As
mulheres têm uma maneira de falar que eu chamo de vago-específica” - Richard Gehman
“Maria, ponha
isso lá fora em qualquer parte."
“Junto com as outras?"
“Não ponha junto com as outras, não. Senão pode vir alguém e querer fazer qualquer coisa com elas. Ponha no lugar do outro dia.";
“Sim senhora. Olha, o homem está aí."
“Aquele de quando choveu?"
“Não o que a senhora foi lá e falou com ele no domingo."
“Que é que você disse a ele?"
“Eu disse para ele continuar."
“Ele já começou?"
“Acho que já. Eu disse que podia principiar por onde quisesse." (...)
“Junto com as outras?"
“Não ponha junto com as outras, não. Senão pode vir alguém e querer fazer qualquer coisa com elas. Ponha no lugar do outro dia.";
“Sim senhora. Olha, o homem está aí."
“Aquele de quando choveu?"
“Não o que a senhora foi lá e falou com ele no domingo."
“Que é que você disse a ele?"
“Eu disse para ele continuar."
“Ele já começou?"
“Acho que já. Eu disse que podia principiar por onde quisesse." (...)
(Millôr Fernandes.
"Trinta anos de mim mesmo". São Paulo: Abril Cultural, 1973)
Veja como o humorista faz sua
sátira, a partir de duas idéias básicas: "as mulheres falam demais" e
"somente as mulheres se entendem". Comece a analisar pelo título a ironia do
autor: "A vaguidão específica" (como algo pode ser vago e específico,
ao mesmo tempo? Só as mulheres, diria Millôr e os que pensam como ele...). Para
confirmar suas idéias, ele busca uma "autoridade" para fazer a
citação: Richard Gehman (quem seria? Um estrangeiro, pelo nome. Novamente, o
humorista brinca com uma idéia pronta: sendo "alguém de fora" deve
ter muito a nos ensinar...). Quem
participa da história narrada? Duas mulheres. São elas patroa e empregada? Mãe
e filha? Não sabemos. Qual é o assunto de que falam as duas mulheres? Nós,
leitores, não sabemos, mas as duas personagens sabem, não é mesmo? A que se
referem as palavras e trechos: "isso", "outras",
"alguém", "qualquer coisa", "lugar do outro dia",
"o homem", "Aquele", "o que a senhora foi lá e falou
com ele no domingo", "continuar", "começou"? Os
leitores não sabem, mas as mulheres sim e como as duas sabem do que estão
falando, a "costura" do texto vai sendo feito de forma coerente e
coesa. Você viu que Millôr Fernandes, intencionalmente, quis brincar com um
preconceito social a respeito da mulher e seu jeito de falar, considerado
excessivo. Assim, para entendermos o texto, como coerente e coeso, é preciso
levar em conta o fato do autor ser um humorista e seu texto trazer essa marca
da "surpresa" ou do "olhar sobre outro ângulo" - como numa
piada.
ATIVIDADE
EXTRA
1)Leia
o texto com atenção. O trecho fala de uma reunião de cientistas para tentar
salvar alguns animais que estão desaparecendo.
O fim de sapos, rãs e pererecas.
Para muita gente,
sapos, rãs e pererecas
podem lá não ter graça. Mas os anfíbios
são essenciais a vida de florestas, restingas
e lagoas, só para citar alguns ambientes. E o problema é que estão
desaparecendo sem que cientistas saibam explicar o porque. O fenômeno é conhecido há anos, mas tem se
agravado muito. Sobram explicações – vírus, redução de habitat e mudanças
climáticas, por exemplo -, mas ainda não há respostas para o mistério, cuja a conseqüência é o aumento
do desequilíbrio ambiental. Para
tentar encontrar uma solução, cientistas começaram a se reunir no Rio.
O Globo, junho de 2003.
a)
Distribua
os substantivos sublinhados pelas colunas abaixo:
SUBSTANTIVO
COMUM
SINGULAR
|
SUBSTANTIVO
COMUM
PLURAL
|
SUBSTANTIVO
PRÓPRIO
|
b)
Agora
olhando esses substantivos, responda: Que animais estão desaparecendo? Eles são
essenciais a vida de quais ambientes?
...................................................................................................................................................................
2) Leia o aviso abaixo, encontrado na entrada
de um local de show para jovens:
Aí pessoal:
Não dá pra todo mundo chegar na
bilheteria ao mesmo tempo.
A gente fica maluco! Sem contar que
demora mais! É pra fazer fila!
Agora você vai reescrevê-lo, com as mesmas
idéias, só que para ser fixado na entrada de um encontro de advogados.
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